
Na CAIXA CULTURAL Paulista, até domingo, dia 25 de Maio, você pode visitar a exposição A Alma Gráfica: Brennand Desenhos com 59 desenhos e quatro esculturas. Essa exposição apresenta o lado menos difundido de Brennand: sua produção de desenhos, pois é um artista internacionalmente conhecido como um dos maiores escultores e ceramistas do mundo.

Francisco Brennand, Recife, PE, 1927
Mulher de Bengala (2000)
Mista sobre Papel, 30×23 cm.
O público e convidados têm acesso ao catálogo da exposição com as obras e desenhos de Brennand, organizado pelo curador Olívio Tavares com texto de introdução do biógrafo Weydson Barros. Nessa exposição há plotagens mostrando o atelier do artista em Recife.

Francisco Brennand, Recife, PE, 1927.
O Assassino (2002)
Bastão Aquarelado sobre Papel, 38×29 cm.
Do texto do curador Olívio Tavares sobre essa exposição:
“Através de seu livro de 2003, coube a Weydson Leal, como já sabemos, chamar a atenção para os desenhos, inclusive a do próprio artista (que sempre fez questão de lembrar a todos sua condição também de pintor, mas não a de desenhista). Mais ou menos na mesma época, Brennand mandava construir no espaço da Oficina a Accademia, um pavilhão especial para as obras bidimensionais; encontram-se lá hoje em torno de trezentas. A presente exposição constitui uma das duas primeiras só de desenhos (outra, bem menor, está acontecendo no Rio, na Academia Brasileira de Letras), e a primeira num circuito profissional, onde os desenhos passam a ter o exame atento que merecem. (…) Já no conjunto original se podia perceber o que esta exposição torna cristalino: da mesma maneira que na escultura, o universo e a figura feminina – e a sexualidade – constituem o centro de interesse do desenho. Mas em virtude da própria natureza mais lírica e intimista deste, o conjunto é menos monolítico. Há vários tipos de registros: do esboço à composição elaborada, do quase-rabisco à textura requintada, da observação do entorno imediato às situações imaginárias. A tragédia não está onipresente e é menos intensa do que nas grandes peças tridimensionais; geralmente aparece reduzida à morbidez, muitas vezes meio maldosa e equívoca. Nesses casos, uma linguagem de fundamento expressionista (como barroco-expressionista é também a linguagem das esculturas) fantasia e intensifica o colorido, deforma e machuca a figura, acrescenta-lhe um toque de grotesco. Simetricamente, uma linguagem quase realista serve para alguns retratos não-dramáticos e para imagens “de clima”. À sólida e sóbria beleza das Cretenses, por exemplo, superpõem-se o leve mistério de A Culpa e a deliciosa provocação de Juventude Estudiosa; por certo não é este o adjetivo que mais convém a esta ninfeta em posição perfidamente descuidosa. [1] Assim como Chapeuzinho Vermelho Vencedora salta com certa perversidade da história infantil para o topos do macho humilhado diante da Vênus triunfante.
Nos últimos anos, Brennand tem desenhado muito, com uma crescente liberdade e ousadia. Exibe um traço forte, viril, às vezes um pouco rude (deliberadamente). De outras vezes parece ter com o papel uma relação de amor e ódio; não costuma acariciá-lo e sim agredi-lo. Algumas obras são muito elaboradas e deixam transparecer o longo processo em que se gestam, outras guardam a espontaneidade do momento. Mas é tudo puro Brennand. Como que começando pelo avesso, ou por uma outra ponta do novelo, de novo ele desvenda seu universo denso. Tudo somado, revela-se aqui um desenhista original e maior, cuja alma gráfica se prova tão consistente quanto as outras. “
[1] Brennand tem enorme admiração pela obra de Balthus. Mais que pela pintura strictu senso, porém, tenho certeza de que é pelo universo de Balthus, povoado de ninfetas. Quanto às posições equívocas da nymphet, Vladimir Nabokov, o primeiro a estudá-la, em Lolita, salienta os gestos desajeitadamente sedutores como um de seus atributos específicos.

Francisco Brennand interessou-se desde cedo pela pintura, tendo como mestre Álvaro Amorim. Entre os anos 1945/47, passou a estudar com La Greca. Na qualidade de legítimo representante da escola pernambucana de pintura, “revisa a estilização primitiva e arcaica, imprime a pureza da cor, filtra uma natureza telúrica e sensual em cada imagem que formula.”
Brennand distinguiu-se desde cedo nos Salões do Museu do Estado de Pernambuco, obtendo no ano de 1947 o primeiro Prêmio. Participou de inúmeras exposições individuais e coletivas – Bienais e Salões – no Brasil e no exterior.
Em 1977, o cineasta Fernando Monteiro dirigiu um curta metragem com título “Brennand: Sumário da Oficina pelo Artista”. O segundo trabalho cinematográfico sobre sua oficina foi dirigido por Jayme Monjardim, em 1980. Em seguida, Jeneton Moraes e Guel Arraes produzem o filme “Um Sonho Bárbaro / Francisco Brennand”.
Em 1993 é indicado pelo Conselho Superior de Cultura do país ao Prêmio Interamericano de Cultura Gabriela Mistral, que receberá em 1994 na sede da O.E.A.
CAIXA CULTURAL Galeria Paulista
Av. Paulista 2083 – Estação Consolação de Metrô
Telefone: (11) 3321-4400
Começou no dia 12 de abril e termina no dia 25 de maio de 2008.
Horário de visita: terça a sábado das 9h às 21h / domingo das 10h às 21h
Entrada franca.
Leia mais sobre a curadoria no restante do post.
Por Márcia Marques. Continue reading →
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