Alguns lançamentos são difíceis de analisar, às vezes, pelo histórico da banda e o que ela representa no cenário mundial, outras, pelos acontecimentos desde a gravação até o dia do lançamento ou pelo longo tempo de inatividade sem lançamento de material inédito, entre outros motivos.
The Book Of Souls é o primeiro disco duplo de estúdio da banda e vem com diversos ingredientes novos, além de um drama interno, que fez com que o sexteto britânico segurasse um pouco a data de lançamento do tão aguardado 16º álbum de estúdio. Além desses novos ingredientes, também temos o fato de que Steve Harris (baixista e líder da banda) tenha afirmado em diversas entrevistas que a banda lançaria apenas 15 álbuns de estúdio. Pois bem, esse é o 16º álbum da Donzela, e o que esperar depois de um ótimo “The Final Frontier“?
Bom, chegou o dia!
Um álbum estranho de se ouvir de prima, mas antes de analisar música por música gostaria de ressaltar a qualidade da produção fazendo a banda soar como ao vivo, com peso, timbres de guitarras exuberantes, o baixo na cara e um Nicko McBrain mais solto, tocando bateria com uma fluência inacreditável em partes fáceis ou difíceis mantendo uma pegada firme, precisa, natural e com timbres bonitos. Timbres incríveis é o que não falta nesse extraordinário álbum, além de solos de guitarras com pegada e feeling da primeira até a última nota. É incrível a performance do trio de guitarristas, Dave Murray tocando com precisão e mantendo-se como o rei dos ligados (técnica de guitarra) no mundo da guitarra. Um Janick Gers maluco, rock n’ roll, sujo, imperfeito, feroz e inconfundível. Adrian Smith, gênio!
E o tal Paul Bruce Dickinson, diagnosticado com dois tumores logo após o termino das gravações, o que esperar? Um tumor no nó linfático do lado direito da garganta e outro na língua? Porra, logo na boca e na garganta do cantor? Será que isso afetará o desempenho do vocalista no novo álbum? Ele continua cantando muito, inclusive sua performance nesse álbum é digna de nota 10!
The Book Of Souls
Disco 1
1 – “If Eternety Should Fail” 08:28 (Bruce Dickinson)
O álbum abre de forma bem parecida com “The Final Frontier”, mas o que vem em seguida é um novo Iron Maiden sem deixar de ser Maiden. O refrão é cativante e os riffs de guitarra são deliciosos, mas o que acontece entre 04:54 e 06:10 minutos de música nos remete aos melhores elementos que fizeram o Maiden reinar absoluto no mundo do Heavy Metal. Um Nicko McBrain marcante, preciso e livre, um Steve Harris fazendo do seu Precision Bass o coração de tudo e, as guitarras “cantando” entre intervalos perfeitos. Momento que seria um dos pontos altos em discos clássicos como Powerslave, Somewhere In Time ou Seventh Son of a Seventh son… A música volta repetindo o refrão, e no final um violão, com fraseados flertando com música celta e uma narrativa distorcida por cima de tudo, lembrando a carreira solo de Dickinson.
2 – “Speed of Light” 05:01 (Adrian Smith, Bruce Dickinson)
A música mais direta do trabalho tem uma intro muito legal, com um contagiante cowbell e um berro rasgado o que nos remete a 1990, além do refrão marcante que deve funcionar muito bem ao vivo. Os solos ao estilo Iron Maiden, o primeiro é de Dave e o segundo é de Smith, em seguida uma dobra de guitarra fazendo uma ponte para voltar ao refrão e finalizar com mais um berro visceral. Heavy Metal puro que deixa com gosto de quero mais.
3 – “The Great Unknown” 06:37 (Adrian Smith, Steve Harris)
Aqui está uma música em um universo bem próximo a A Matter of Life And Death. Uma intro de baixo seguida de melodias com guitarras limpas dando climas obscuros. Uma música densa, um pouco mais arrastada com um refrão que soa como um hino. Esta música traz o lado mais progressivo da banda, vários climas, solos e mudança de andamentos. Boa música.
4 – “The Red and the Black” 13:33 (Steve Harris)
A única música escrita exclusivamente por Steve Harris começa com acordes poderosos em seu inconfundível contrabaixo e assim a música segue ao estilão Iron Maiden de ser. A linha de voz segue uma guitarra e vice e versa, e ao chegar no refrão ouvimos os famosos “Ooooh Ooooh!” que Bruce Dickinson interpreta de forma magistral, além de não ter como não fazer comparações com canções longas da banda. É uma música mais densa que “Rime Of The Ancient Mariner“, “Alexander The Great” e “Seventh Son of a Seventh Son“. O refrão gruda logo de cara, diversos solos e dobras de guitarras, viradas de bateria e mudança de tempo constantes. Os guitarristas estão tocando demais nesse álbum! Esta música mantém a linha Prog Metal do Maiden e manda seu recado, excelente música. São 13 minutos que parecem 3.
5 – “When the Rivers Run Deep” 05:52 (Adrian Smith e Steve Harris)
Uma música mais direta que as anteriores com algum elemento que me faz lembrar uma mistura de Somewhere In Time e Brave New World. Não sei se é o timbre da caixa do Nicko que é seco e na cara, os timbres de guitarra da introdução ou as mudanças de andamento e mudanças de timbres de guitarra na parte dos solos. É uma música que mantém a banda em um universo mais progressivo. Ótimo riff principal e o mais puro heavy metal tradicional, uma linha de voz marcante e mais um refrão cativante. Sustenta o álbum em alto nível!
6 – “The Book of Souls” 10:27 (Janick Gers e Steve Harris)
Intro de violão, um riff de balançar a cabeça, uma melodia de voz cativante e um refrão que soa como hino. O china (prato de bateria) conduzindo no contra tempo da um charme e clima oriental no riff principal da música. Aos 05:50 começa uma sessão instrumental que nos remete a 1985, riff rápido e um solo de guitarra com um pedal de wha usado com muita sabedoria. As guitarras trigémeas estão presentes dando peso às melodias, dando suporte ao belíssimo vocal de Bruce Dickinson. Destaque para Janick Gers que sempre demonstra bom gosto na hora de improvisar solos. O disco 1 acaba com um épico digno de faixa título.
Disco 2
1 – “Death or Glory” 05:13 (Adrian Smith, Bruce Dickinson)
“Death of Glory” tem uma intro que pega na veia dos fãs mais ortodoxos da banda, uma melodia vocal inconfundível e um refrão que faz jus ao repertório da banda. A pegada mais progressiva da Donzela continua, investindo em partes instrumentais trabalhadas. Bruce continua soltando agudos rasgados e altos.
2 – “Shadows of the Valley” 07:32 (Adrian Smith, Bruce Dickinson)
A música começa com uma mistura interessante de “Wasted Years” e “Out Of The Silent Planet“, ao entrar a melodia de voz nos deparamos com algo no estilo “Brave New World“. Tem um andamento rápido e o riff martela sua cabeça, fácil de cantar e com riffs cativantes. Mais uma música que agrada novos e velhos fãs.
3 – “Tears Of a Clown” 04:59 (Adrian Smith, Steve Harris)
Uma música que lembra bastante a carreira solo de Bruce Dickinson, principalmente pela entrega completa em sua interpretação. Após o refrão, uma sequência instrumental “quebradeira” e um solo de guitarra muito bem colocado, lindo e limpo, com uma pegada e notas escolhidas com muito cuidado. Os arranjos de guitarra durante os versos são dignos de nota assim como o casamento perfeito entre baixo e bateria. A letra é uma alusão à vida e à morte do ator Robin Williams. Para a revista Rolling Stones, o próprio Dickinson declarou “Tears Of A Clown’ [Lágrimas de Palhaço], que fala sobre Robin Willians. Eu me perguntei como ele poderia estar tão depressivo quando sempre pareceu ser tão feliz”. O cantor disse ainda que por mais que essa letra não tenha sido escrita por ele é a que mais gosta em todo o álbum.
4 – “The Man of Sorrows” 06:28 (Dave Murray, Steve Harris)
Iron Maiden é uma banda livre de baladas, as músicas que mais se aproximam disso são sempres pesadas com mensagens bem profundas e densas, além de instrumentais marcantes. The Man of Sorrows é a única música do álbum que tem a assinatura do guitarrista Dave Murray, então pode esperar solos de guitarra. A música manda seu recado com louvor. Belíssima!
5 – “Empire the Clouds” 18:03 (Bruce Dickinson)
A música mais longa da história da banda e a mais inovadora desde os anos 80. No piano, melodias simples e belíssimas, um violoncelo aparece para dar um auxílio ao clima. As guitarras são sutis no começo, enquanto Nicko McBrain sutilmente ruffa os tambores. Bruce mais uma vez dá aula de interpretação e, é claro, de canto. O refrão emociona e depois disso vem uma “saraivada” de riffs atras de riffs, mostrando que a banda continua em forma. Diversos riffs vão aparecendo costurando a história da banda, às vezes parece que estamos em 1981, em outros momentos, em 92 e em alguns outros em 2010. Uma colcha de retalhos, costurados com muita competência e sabedoria. A música é muito boa e empolgante e fecha esta obra surpreendente com louvor.
Definitivamente não é um disco de uma banda em final de carreira, tudo que se ouve no álbum é tocado com muita garra e segurança, deixando a impressão de que estamos presenciando mais um momento épico na história do heavy metal. A produção é assinada por Kevin Shirley e co-produção do próprio Steve Harris. A arte é assinada por Mark Wilkison, que havia assinado outros trabalhos da banda (Live At Donington, The Wickerman, Out of the Silent Planet, Eddie’s Arquives e Best of the B-sides).
Agora, só nos resta esperar o novo Eddie Force One pousar em terras tupiniquins. Aparentemente, o tour será gigante, assim como o álbum. O novo avião da banda é um Boing 747-400 que é quase o dobro do tamanho do antigo avião. A mudança foi feita pela quantidade de equipamento que será utilizada no próximo tour. Mas isso é assunto para outro bate papo, vamos curtir um pouco mais o The Book Of Souls que é simplesmente fantástico!
Nota 9,5